Paulo Lins tem a capacidade única de mostrar o universo da população pobre do Rio de Janeiro com uma linguagem cândida – porque a lente que utiliza para focalizar seus personagens é a de quem conhece bem a pobreza e o preconceito e sabe quão humanos somos todos, por mais que variem as tintas que nos pintam ou as vidas que levamos. Lulu e Dudu são irmãos. Moram em Queimados, na Baixada Fluminense, a 50 quilômetros do Rio. Lugar quente, empoeirado, de muita pobreza e violência frequente. Os dois meninos querem arrumar namorada. Sobretudo, querem beijar na boca. Ora, lugar de encontrar namorada é o baile funk. Mas precisa ir bonito, de tênis colorido, de marca, pra impressionar. E pra comprar o tênis precisa de dinheiro. Balinha no trem que leva ao Rio, Mentex na porta do cinema, flanelinha no sinal. São as frestas que eles encontram, numa sociedade blindada para adolescentes pobres. Aliás, para adultos pobres também.