Questões de seleção e de organização do conhecimento escolar têm constituído privilegiados alvos da atenção de todos os que teorizam ou tomam decisões sobre currículo. Na abordagem técnico-instrumental, dominante das primeiras décadas do século XX ao início dos anos 1970, as preocupações voltaram-se, principalmente, para como proceder à seleção e à organização dos conteúdos e das experiências de aprendizagem. No enfoque crítico, cujo apogeu ocorreu entre as décadas de 1970 e 1990, as relações entre conhecimento escolar e poder ocuparam as atenções dos especialistas e pesquisadores do campo. A partir da segunda metade da década de 1990, os estudos de currículo diversificaram-se, passando a receber novas influências teóricas e a abordar novas temáticas. Recente levantamento chega mesmo a identificar onze diferentes tipos de textos curriculares. Se toda essa profusão de textos tem contribuído para enriquecer as discussões travadas, tem, concomitantemente, favorecido a descaracterização do campo. Segundo Barry Franklin, o currículo não mais existiria como campo articulado de pesquisas e práticas. Talvez, na virada do século XX para o XXI, o campo tenha mesmo deixado de existir. Em meio a essa dispersão, é motivo de júbilo termos uma coletânea cujos textos focalizam o conhecimento escolar a meu ver, sempre o grande tema dos estudos de currículo e sua organização nas políticas educacionais e nas salas de aula. Ou seja, temos uma coletânea em que ainda felizmente se consideram as escolas importantes espaços de ensino e de aprendizagem. Temos uma coletânea em que se discutem as disciplinas por um lado, obstáculos à discussão dos problemas contemporâneos, cujas configurações não se restringem aos limites disciplinares, mas, por outro, indispensáveis instrumentos de sistematização de saberes e habilidades que permitem ao estudante enfrentar melhor esses mesmos problemas. Temos uma coletânea, em síntese, bastante relevante, que oferece ao leitor um estimulante conjunto de artigos de qualidade. Com suas organizadoras, Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo, pesquisadoras do campo do currículo, tenho tido o privilégio de compartilhar descobertas, dúvidas, inquietações e alegrias no estudo do complexo objeto que tanto nos instiga: o currículo. Antonio Flavio Barbosa Moreira