Desde que estreou no palco do Espaço Off, uma instituição do underground paulista nos anos 1980, com a comédia Prepare seus pés para o verão, Marta Góes manteve algumas fidelidades. Neste livro com três peças suas, o fascínio pela comédia do cotidiano, enxergada, de preferência, no mundo do trabalho e visível na peça de estréia, está em A moça que falou assim. Na inédita Miss Cýclone, como fez em Um porto para Elizabeth Bishop, ela trata de uma personagem real. Mas, ao contrário da poeta americana, que luta para superar seus terrores íntimos, Cýclone, musa da garçonière de Oswald de Andrade na segunda década do século XX, luta contra um inimigo externo: as amarras de uma sociedade tacanha. Em A reserva, em cartaz no Teatro Cosipa com Irene Ravache como protagonista, Marta volta ao universo das pessoas comuns. Não mais para buscar-lhes a caricatura, mas para apontar as grandes escolhas embutidas nas situações prosaicas. Por alguma razão, todas as suas protagonistas, até agora, foram mulheres.