“A escravatura é apenas a base de um sistema econômico que nunca me seduziu. Para que um homem possa se dizer dono de outros seres humanos, é preciso muito mais do que dinheiro para comprá-los num mercado de escravos. O líder precisa ser mais importante para o seu servidor do que o oxigênio ou o sangue que circula em suas veias”. Estamos em 1889, meses depois da Abolição da Escravatura e meses antes da Proclamação da República. Entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, o Coronel Custódio Sotero de Souza e Mello comanda a Fazenda Rio Vermelho, um latifúndio próspero baseado nas culturas do café e do açúcar, mantendo o poder sobre seus “funcionários” por meio de uma nova maneira de escravizar. Por trás de seus métodos modernos de dominação, está a misteriosa aliança com Itonde, uma temida e milenar entidade espiritual que habita uma clareira perdida às margens do Rio Pomba, comandando um exército de índios rebeldes miscigenados com negros fugitivos. “Se o senhor for ali na entrada da oca, vai ver que meu corpo morto e sem coração já foi colocado sobre a fogueira. Quando os guerreiros acenderem aqueles troncos e gravetos Itonde vai passar a viver no corpo humano do Padre Prisciliano. O senhor devorou meu coração e agora é inevitável que receba dentro do seu corpo o espírito de Itonde”.