Alguns vão parar no olho do furacão por vontade própria. Outros chegam lá por força das circunstâncias. Foi que aconteceu com Vladimir Herzog e com Paulo Markun. Desde seu primeiro dia de trabalho na TV Cultura - onde assumira a direção de jornalismo, - Vlado tornou-se o alvo preferencial de uma campanha que procurava apresentar a emissora como estando sob o perigoso controle dos comunistas, a serviço da subversão internacional. Militantes do então clandestino Partido Comunista Brasileiro, mas com um projeto de jornalismo da TV Cultura previamente aprovado pelo governo do Estado, eles acabaram indo parar naquilo que os próprios agentes do Doi-Codi, o todo-poderoso organismo de repressão política definiam como 'a sucursal do inferno'. Junto com dezenas de companheiros, em outubro de 1975, Markun foi preso. Já Vlado, horas após entregar-se, estava morto. Para encobrir o assassinato, forjaram seu suicídio por enforcamento - mais uma na longa série de mentiras com que os militares tentavam ocultar o que ocorria no porão do regime. Mas, pela primeira vez depois de muito tempo, a sociedade reagiu à uma morte sob tortura. É o que este livro relembra, 30 anos mais tarde, na esperança de registrar, a partir de um ponto de vista pessoal, um pouco da história de Vlado e do sonho dessa geração.