Para Mário de Andrade, beber no copo dos outros foi uma das atitudes mais frequentes, por acreditar que o diálogo com o outro resultaria na realização de um projeto fraterno e coletivo, observa Eneida Maria de Souza. As cartas trocadas entre Mário de Andrade e Henriqueta Lisboa entre os anos de 1930 e 1945, os seis últimos anos de vida do artista, se destacam no conjunto da correspondência do escritor especialmente por dois motivos: pelo ritmo intenso da interação entre ambos, e o aparente paradoxo de duas personalidades tão distintas, com projetos literários muito diferentes, se abrirem a confidências e reflexões marcadamente pessoais, num nível de franqueza e complexidade raras vezes alcançado. Nas cartas mesclam-se temas do cotidiano, questões estéticas, lições de poesia; a abertura e a publicação das cartas permite a compreensão mais aguda dos caminhos que a literatura brasileira seguiu até chegar a atual configuração.