Por meio da transvaloração dos valores, Nietzsche visou promover uma total reviravolta valorativa no Ocidente. Para levar esse projeto a cabo, ele considerou que seria mister atacar a escatologia, a transcendência e o dualismo que caracterizam a cosmovisão platônico-cristã, uma vez que essas noções seriam utilizadas para legitimar os valores que vigoram na civilização ocidental. Ao enxergar essa relação entre valores e cosmovisão, Nietzsche se empenhou em elaborar uma cosmologia caracterizada como um cristianismo e um platonismo invertidos. Em outros termos, para inverter a forma de valorar do Ocidente, também se faria necessário colocar de cabeça para baixo a cosmovisão que o norteia. Capaz de levar o homem ocidental a repensar a totalidade cósmica como pura imanência e a deslocar a noção de eternidade do “Céu” para “Terra”, essa “nova” cosmologia viria a minar os alicerces da moral vigente e, simultaneamente, preparar as bases para a criação de novos valores.