Na Amazônia, histórias de fantasmas são conhecidas como histórias de visagens. Este é, portanto, um livro de histórias de visagens, devendo ser lido assumindo-se a suspensão voluntária da descrença, como diria Samuel Coleridge. Nossos fantasmas, porém, nem sempre são vingativos ou retornam ao mundo dos vivos por uma questão de culpa ou maldição. Muitos simplesmente têm saudade dos vivos. Outros voltam como navio fantasma, ou como vozes atormentando uma pobre criatura. Alguns vêm (e há muitos relatos desses) para indicar o local de um tesouro enterrado ou para advertir de uma ameaça iminente. Não circulam por castelos ou charnecas nebulosas, mas se ocultam em sapopemas monstruosas, na floresta escura, ou perambulam por ruas silenciosas de cidadezinhas confinadas entre a mata densa e o rio de águas turvas, de onde podem surgir de repente. Ficam de pé, invisíveis e em silêncio, ao lado da rede de dormir, mas sua presença pode ser sentida pelos arrepios de alguns, pela "cuíra" de outros. Nascem, muitas vezes, da escuridão da alma humana ou do seu precário entendimento, gerando pilhérias hilariantes, descobertas cruciais sobre o que há do outro lado do véu diáfano da morte, ou dolorosas tragédias.