Nem mesmo a morte foi capaz de mudar Sócrates; seu filosofar era, de fato, o que sempre almejara: um ensaio para a morte. Quantos de nós têm um emprego tão estável, mesmo após a morte? Em sua Apologia, Sócrates expressou o desejo de seguir examinando as pessoas mesmo depois de morto. E ei-lo aqui, realizando seu desejo. Ei-lo aí; esse maravilhoso encrenqueiro, esse ateniense inconveniente que cria dificuldades onde quer que esteja, sobretudo ali onde a vida é demasiado fácil para o exercício do pensar, ou o pensar demasiado fácil para que haja honestidade. Cá está ele, o filósofo sem sistema, o esgrimista auscultador de espíritos, infectado pelo enigma do oráculo e disseminando essa saudável infecção; questionando, convicto de que uma vida não examinada não vale a pena ser vivida