Seria possível imaginar alguma relação entre romances sentimentais e a formação do cidadão moderno? Ficções de fundação: os romances nacionais da América Latina discute a construção das modernas comunidades nacionais, a partir de romances sentimentais da América Latina, sobretudo os do século 19, como Facundo e Amalia (Argentina), Sab (Cuba), Martín Rivas (Chile), El Zarco (México), O Guarani e Iracema (Brasil). Para a autora, os romances analisados incentivariam no leitor um sentimento de nacionalismo. Essa hipótese surgiu após a constatação de que Enriquillo (Santo Domingos), típico de todo um cânone latino-americano, fala diretamente ao investimento passional que se pode ter no nacionalismo. O estudo cruza elementos de gênero, raça e classe social na análise das obras e dialoga com Foucault, Lacan, Gramsci, Benedict Anderson, Walter Benjamin, Paul de Man e Fredric Jameson, embora muitas vezes em tom discordante. O conceito de alegoria funciona como código comum, permitindo detectar nesses romances dois níveis de histórias, em que um sempre remete ao outro: um nível privado, centrado no amor heterossexual entre as personagens-amantes, e um nível público - exemplos específicos de romances do século XIX possibilitam projeções de conciliação nacional através dos anseios de amantes que atravessam barreiras raciais e regionais - , relacionado também à consolidação da comunidade nacional. Mostrando semelhanças e diferenças entre as obras, tanto do ponto de vista narrativo quanto contextual, a autora faz com que elas conversem entre si, compondo um diálogo ricamente polifônico, no qual se destaca a sua voz de leitora ativa e crítica.