Ah, você estuda Direito?!, Nossa, você é advogada?!, Professora de Direito em uma Universidade Federal?! Olha só..., Cadê a juíza?. O despudor dessas indagações revela o quanto mulheres negras foram postas fora do lugar também no Direito. Sua ausência na carreira da magistratura se explica pelo cruzamento entre outras ausências - nas melhores universidades e cursinhos preparatórios e a presença de estereótipos negativos no imaginário de juristas e, portanto, de membros de comissões seletivas para ingresso em diversas carreiras jurídicas. Assim, mesmo quando presente (nesse imaginário), seu existir corresponde a uma negação de acesso. Raíza Feitosa Gomes, ela mesma mulher negra piauiense e jurista, revela como atuam os binários da exclusão por raça e gênero no Poder Judiciário brasileiro, e as formas de agência de mulheres negras que, apesar deles, tornaram-se juízas. Sabemos que suas existências nesses espaços não bastam para alterar o modo como se organizam tais relações em nossa sociedade. Entretanto, ao forçarem as frestas, elas provocam pequenas fi ssuras no imaginário de juristas e contribuem para que se deixe de pensar que as mulheres negras estão no lugar errado. Lidyane Maria Ferreira de Souza Professora na Universidade Federal do Sul da Bahia Doutora em Direitos Fundamentais na Sociedade Global pela Università di Camerino.