O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro é uma das manifestações artísticas mais populares e midiáticas da cultura brasileira. Embora se reinvente constantemente, o evento, transmitido pela TV em rede nacional como um grande espetáculo com palco e plateia fixos, é copiado em várias cidades brasileiras e estrangeiras. Sua forte característica metamórfica é criticada, a partir do senso comum, pelos cultuadores de uma suposta tradição como perda de identidade. A [re]configuração do discurso do samba é um estudo que elucida o comodismo dessas asserções críticas e revela que, desde a origem, as Escolas de Samba não tiveram um formato fixo. Polêmicos desde sua origem, o caráter transgressor dos desfiles sempre os tornaram um elemento de grande interesse midiático. No entanto, a história das Escolas de Samba cariocas revela um equilíbrio na tensa e complexa relação entre inovação e tradição, pois tendo alcançado sua legitimidade e sendo um rico espaço das relações e da reelaboração de diversas identidades culturais, não temos dificuldade em distinguir o que é uma Escola de Samba. Nesta balança, que ora parece pender para um destes polos, tradição e inovação, seus sujeitos permanecem cientes de sua história e atuantes em suas estratégias de transmissão cultural. Ao abordar as estratégias dos sambistas para a manutenção e busca da hegemonia nesta indústria do entretenimento, Antônio Henrique de Castilho reconfigura o discurso do samba - entendido aqui como a reunião de Escola de Samba, samba enredo e desfile - e desvela o protagonismo de seus verdadeiros agentes e suas falas e nos faz entender como esta manifestação alcançou seu estado de maior destaque nas representações culturais brasileiras.