Você começa acreditando: É verdade que tudo aquilo aconteceu num dia sem data. Pode ter acontecido hoje, mais perto do almoço, enquanto você estendia as roupas no varal. Ou talvez ano passado. Você tenta identificar outros chãos pra compensar a falta de um tempo, mas percebe a desimportância disso; o título diz ser verdade, e você confia. Apesar de estar vendado, dá pra sentir alguém te puxando pela mão, um sentido sussurrado no ouvido. As imagens nos poemas da Maria Catarina se assemelham àquelas que visualizamos em uma prática meditativa guiada: soltas em um não espaço, sem borda. E isso também não importa, você se segura no pouco que enxerga, um urso pardo, não todo, só os dentes do urso ou um pedaço das costas, ele esconde algo vermelho. Você segue lendo com a sensação de quem espia o próprio sonho. As linhas que atravessam o livro servem ao seu propósito contrário, daí o ar onírico no texto. Elas costuram fragmentos de realidade pra dar conta do que existe no avesso. (...)