Publicado originalmente em 1934, MALEITA deu início à brilhante carreira literária de Lúcio Cardoso. Escrito quando o autor tinha entre 17 e 19 anos, a estréia avassaladora já indicava que a obra do escritor mineiro marcaria profundamente a literatura brasileira. Considerado por vários críticos seu melhor romance, até esta edição da Civilização Brasileira, MALEITA era uma raridade restrita a sebos e boas bibliotecas desde 1970 o leitor não tem o privilégio de uma nova edição da obra. O romance surpreende pela estrutura vigorosa, pelo frescor da linguagem e temática. A vida levada por um forasteiro andarilho, fundador de cidades e de espírito aventureiro inspirado no pai do escritor, Joaquim Cardoso, conduz a trama, que se debruça sobre a paisagem às margens do rio São Francisco, nas imediações da cidade mineira de Pirapora. A fundação da cidade atrai imigrantes de toda a parte, e, aos poucos, chega também a tragédia. A malária torna-se personagem central do romance, instigando o leitor a refletir sobre a ganância e a miséria do homem. Ao lado de escritores como Clarice Lispector, Cornélio Penna, Octavio de Faria e Jorge de Lima, Lúcio Cardoso fazia parte do seleto grupo de escritores intimistas. Chamado pela crítica de o Dostoievski mineiro, era um atormentado. Um autor capaz, até mesmo, de contratar um assassino de aluguel para persegui-lo e, assim, mergulhar de forma mais completa no inferno de um personagem. Em outras ocasiões, chegou a convidar vagabundos que se odiavam para uma mesma festa, a fim de observar o resultado. Num meio literário acostumado à leveza e à simplicidade, Lúcio Cardoso seguiu na contramão, construindo uma literatura densa, obscura e reflexiva.