O MAIOR CRIME DA TERRA: O açougue humano da Rua do Arvoredo.Neste livro o historiador Décio Freitas é original e único sob vários aspectos. Talvez Décio Freitas seja o primeiro historiador brasileiro a tratar a violência homicida não como um fait divers ou uma ocorrência policial, mas como a essência mesma da história. Para o autor, o que move a história não são as idéias, mas os instintos do animal-homem. Para ele, falharam os esforços civilizatórios que tentam espiritualizar o homem, a fim de que transcenda sua básica condição animal.Décio Freitas exumou do passado da cidade de Porto Alegre, em meados do século XIX, um episódio tenebroso que sobreviveria no inconsciente coletivo, mas não ganharia o estatuto de História, e isso porque a cidade queria negar para si mesma aquele momento de regressão à bestialidade, na qual moradores, de forma consciente ou inconsciente, violaram o interdito segundo o qual animais não comem carne de outros da mesma espécie, ou seja, não devem praticar o canibalismo.Através de exaustiva pesquisa histórica, Décio Freitas faz a crônica dos crimes de José Ramos, um indivíduo encantador, apaixonado pela música lírica e pela poesia, que matou várias pessoas e usou sua carne para fabricar lingüiça. José Ramos adorava especialmente degolar suas vítimas, mas nisso não diferia da prática dos habitantes da província, em suas guerras e em suas revoluções, de degolar os adversários. Ainda hoje, segundo o historiador, quando não pode praticar o canibalismo no sentido literal, o homem o pratica no sentido metafórico, na competição e na luta pela vida.Este livro é uma crônica de horrores inauditos, mas também um convite à reflexão do homem sobre si mesmo.