No dia 5 de dezembro de 1985, uma menina de catorze anos entregava a sua alma a Deus num hospital do Norte da Espanha. Era o fim de dez longos meses de doença, um câncer ósseo especialmente doloroso na espinha cervical, que tinha exigido quatro operações, a deixara paralítica e a fizera passar pelo amargo calvário da quimioterapia. Neste aspecto, na verdade, nada de novo: a história de Aléxia assemelha-se à de tantos outros doentes de câncer, muitas vezes próximos de nós; por outro lado, porém, havia nela qualquer coisa de especial. Inúmeras pessoas que a visitaram durante esse tempo sentiram-se atraídas e levadas para Deus diante da fortaleza e da coragem que demonstrava, do seu esquecimento próprio e da sua paz e serenidade, frutos da sua intensa fé em Deus. Instantes antes de morrer, a mãe perguntara-lhe pela última vez: Você é feliz, minha filha?, e a resposta fora um vigoroso Sim. Como se pode ser feliz nessas circunstâncias? Como se pode aceitar a dor, a privação total e a morte com tanta alegria? A resposta a estas perguntas encontra-se, em primeiro lugar, na atitude com que Aléxia enfrentou o sofrimento. Desde pequena, seu lema fora: Jesus, que eu faça sempre o que Tu quiseres. E foi a aceitação confiada da Vontade de Deus a clara e simples consciência de que, para os que amam a Deus, tudo é para bem que lhe deu a serenidade e a maturidade necessárias para ver desmoronar-se a sua vida aos catorze anos, sem amargura, sem ressentimento, sem revolta, com amor. A segunda parte dessa resposta está na atitude com que a família, e em especial a sua mãe, a acompanhou passo a passo na sua doença; entre as muitas dores que sofreu, nunca esteve a dor da solidão ou do desamparo. Mas há mais: desde criança, Aléxia recebeu dos pais e irmãos uma sólida formação do caráter e uma vida de piedade sincera e intensa, que a tornaram capaz de superar mais tarde, com um sorriso, as mil e uma dores e inconvenientes que a doença traz consigo. Nestas páginas encontraremos, pois, um exemplo que ensina a sofrer com alegria, não somente a doença e a morte, mas as pequenas e grandes contrariedades do dia-a-dia. Aprenderemos também a compreender e a acompanhar os que sofrem, não com sentimentalismos e lamúrias estéreis, mas com uma caridade prática e vigorosa. E descobriremos como estar preparados, e como preparar os que nos cercam, tanto para a vida como para a morte.