Volto à pergunta: está a solidariedade em risco? Entendo que não, melhor, que sim: a solidariedade está em risco. Márcia comenta com argúcia que em muitos casos a solidariedade necessita de uma transcendência, de um significante exterior e sobretudo superior que a faça funcionar. […] Nossa reeducação sentimental precisa passar pela capacidade de sofrer com quem está perto de nós. É uma reeducação do sentido da visão. Mais modestamente, é ser capaz de desligar o celular e enxergar quem está diante de nós. As últimas décadas realizaram um trabalho espantoso e bem-sucedido, para não nos sentirmos mais interpelados pelo nosso próximo. É esse trabalho indecente que precisamos desfazer. E é pela educação, desde a creche, que devemos começar. A solidariedade está em risco. É nosso papel reconstruí-la