O quarto retorno ao país natal, deixado aos quatro anos de idade, é o contexto em que se decantam estas impressões de Flavio--Shiró sobre o Japão, sua cultura e seu povo. Instantâneos temperados pelas circunstâncias de sua vida franco-brasileira, deixam aflorar a persistência imemorial do que se transmite de uma geração a outra. Acompanhadas de impressões de outra natureza, monotipias cujas estampas se valem tanto do que cores iluminam quanto de sombras infensas ao que se quer logo compreender, ocasionam a beleza de uma desesperança consentida, no sentido do que se passa, e não do que se perde. É preciso não só fôlego, como também a respiração suspensa para tatear com os olhos umas e outras, igualmente espontâneas. Flavio-Shiró revisita a sua infância - cerejeiras em flor, banhos quentes, baiacus preparados para os comensais, máscaras brancas, a saudação respeitosamente trajada -, e assim se despertam, no fundo de sua memória,as serpentinas lançadas, o uivo do navio, a banda, o adeus..., impulsionando-o a mais uma viagem, estremada pelas gotas de chuva que vertem nas janelas do ônibus que o leva de volta ao aeroporto. Causa surpresa que momentos assim pareçam raros nos dias que correm. Eles não o são. A ação das palavras sobre nossos corpos, inclusive em sua ausência sonora, dá margem a acontecimentos que, vez ou outra, refazem o que vive em nós. O sorriso de uma criança continua a anunciar a aurora de nosso mundo, bífido mundo, sempre a descoberto.