Quem melhor poderia narrar a difícil missão do fidalgo português Luis de Assis Mascarenhas, governador da então província de São Paulo e Minas dos Goyazes, de transformar um punhado de minas de extração de ouro do cerrado brasileiro no embrião daquele que seria o Estado que abriga hoje a capital federal? Um sentinela, claro. De preferência castrado, sem humores para desviar a atenção com mulheres e treinado na arte da vigília por uma jibóia de nome Messalina. Naqueles Morros, Depois da Chuva é a primeira parte de uma trilogia que pretende reconstruir, mesclando ficção e história, a colonização do Estado de Goiás, com sua linguagem característica, preservada por meio da oralidade que o autor Edival Lourenço adquiriu em sua infância. Advogado e filho único de trabalhadores rurais sem terra até a idade de 12 anos, Lourenço cresceu pelos garimpos, ouvindo as histórias dos garimpeiros e dos viajantes. Dessa vivência nasce uma linguagem que, nas palavras do autor, são "um mix dos textos de cronistas viajantes com a conversa que eu ouvia dos contadores de casos nos garimpos de Rio Claro". Ele próprio, aos 8 anos, filho de pai e mãe analfabetos, usou a rica inclinação à expressão oral do interior goiano para decifrar pela primeira vez os textos de um Almanaque do Biotônico Fontoura, trazido por um vendedor, que leu para ele as histórias do livreto. Acreditando que estava lendo, o menino Edival repetia as histórias, assim como os sertanejos que povoaram sua vida.