Se o sentimento não nos conta tudo, a poesia que nasce do pulso de Fernanda Oliveira floresce nessas páginas e desvela o que as palavras não conseguem conter. Em Recortes, olhares e emoções vão se unindo em versos, formando, tal como um quebra-cabeça, a imagem do poema. Desafiando e questionando com brandura, no movimento suave e certeiro que caracteriza a poesia da autora. O porquê também é momento - diz Fernanda. Cada um desses recortes eterniza o momento do porquê, instaura, verso a verso, página a página, a dúvida sobre o que nos toca do exterior versus o que vibra dentro do coração do leitor, do autor, da palavra, do poema. As ideias, sensações e sentidos se unem na beleza da poesia, revelando todo o desencaixe que há no senso comum, com a lucidez e transparência desconcertante de quem sente a vida em cada camada da pele. O que é verdadeiro, o que é falso, o que é importante e o que se deve esquecer - os versos de Recortes constroem sua matéria poética no fino equilíbrio das perguntas sem respostas. O nono livro de poemas de Fernanda Oliveira confirma a voz poética original de uma autora que opta pela beleza do risco - como se, no sinuoso ballet do equilibrista em cima do muro se fundasse a singularidade da sua poesia.