"Uma escola, se ela merece seu nome, no sentido em que este termo é empregado desde a antiguidade, é algo onde se deve formar um estilo de vida" (Lacan, 27.01.65) Um percurso em psicanálise com Lacan indica também a busca de um estilo. Escreve-se com estilo, lê-se com estilo, fala-se com estilo, ouve-se com estilo, ou seja, praticam-se tais atos com uma marca própria, diferente, na qual toda subjetividade do leitor, do escritor, do falante, do ouvidor está envolvida. Enfim, está no estilo a singularidade. Se, por um lado, tal pertinência pode ser atribuída primeiramente à fala, não nos impede considerar a fala uma tentativa de apropriar-se, por meio da língua, de uma certa linguagem ouvida primordialmente, permitindo-nos apreciar o estilo a tentativa de criar, pela via de uma escritura, a diferença radical entre um escritor e outro. Assim, está na escritura a autoria. Lida certa feita, manteve-se na memória uma frase escrita por reconhecido crítico: "É difícil dizer as coisas. É difícil dizer as pessoas". O que poderia ser aqui escrito sobre a autora está nas letras que ela própria usou para compor seu texto, articulado, bem entendido, nessa alteridade radical num Outro lugar. Seu texto parece afirmar sua Athé, condenando-a à busca do - no seu próprio escrever - "dizer sempre mais um". A combinatória efetivada na forma do texto que nos apresenta indica, no momento, seu apreço pelo ensino de Lacan, que vai de 1936 a 1961, apontando em vários pontos o que virá a seguir no domínio de seus estudos, a topologia e os nós. Como tudo o que lemos sobre o ensino de Lacan, como outros o lêem, o li como quem busca encontrar uma escritura, isto é, aquele ponto possível de convergência resultante da relação entre a língua e o estilo. A julgar pela escritura aqui composta, não há dúvida quanto à sua escola, a de Lacan. Paulo Roberto Medeiros