Na poesia de Safo não encontramos o amor devotado a um homem, até porque este amor ainda não existia para a mulher grega. Contudo, a percepção desse amor, como o entendemos hodiernamente, já estava presente, mas só podia então ser manifestado através de uma entrega e uma vivi?cação da sensualidade feminina, e esta é a porta de entrada de Safo no mundo poético grego, amplamente dominado pelos homens. Somente alguns séculos mais tarde, no surgimento da concepção do amor platônico, o mundo masculino encontrará um correlato amoroso que se emparelhe com o amor manifesto na poesia de Safo. E este é provavelmente o ponto crucial, a sensualidade, a partir do qual se valeu a posteridade para estabelecer os preceitos de voluptuosidade e voracidade sexual com que trataram o círculo de donzelas da poetisa de Lesbos. A concepção medieval do amor, de onde nasceu a nossa atual experiência afetiva, estava longe de compreender a dimensão desse amor antigo, devotado muito mais à beleza, à comunidade e à educação sentimental, do que à elevação social, à formação da família e à realização individual e afetiva no seio da sociedade. É mais do que provável que tenha sido na Idade Média que as lendas de Safo, e seu círculo de donzelas devotadas ao amor lésbico, foram estabelecidas. Vários fatos corroboram para este ?m.