Treze contos diabólicos e um angélico foi praticamente todo escrito entre 2003 e 2004. Neste mesmo período, seu autor, Frei Betto, atuava como Assessor Especial do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Mas o autor descarta a influência de sua passagem pelo governo neste livro. Não se faz ficção como recurso de mensagem política. Frei Betto não resiste, porém, a uma comparação: “governo não é nem inferno, nem céu. É purgatório, diz o experiente escritor, que lança seu 52° livro, o primeiro após ter renunciado às suas funções no governo federal. Em Treze Contos Diabólicos e um angélico, o escritor apurou ainda mais seu estilo, consagrado desde O Aquário Negro, seu primeiro livro de contos publicado em 1979. O protagonista é o Coisa Ruim, o Capeta, o Demo, o Anjo Caído, alcunhas associadas àquele que simboliza a essência do mal. Nestas pequenas e belas histórias, o leitor é levado, inevitavelmente, a refletir sobre a inveja, a ganância, o egoísmo, a maldade, a tirania, a alienação. No conto que abre o livro, O Hóspede, Frei Betto faz uma leve referência a Jean-Paul Sartre. Solitário, um homem acaba conhecendo o diabo, que se transmuta em várias pessoas, como se fosse um espelho da alma de quem o vê. Diferentemente de Sartre, Frei Betto acredita que o inferno são os outros somente na proporção do nosso egoísmo. Para ele, somos nós que produzimos o inferno.