A cultura popular é fonte inesgotável de narrativas, que circulam pelo mundo nos mais diversos idiomas e pelos mais distantes pontos da Terra. Há muitos elos de contato entre essas narrativas, mas uma personagem recorrente nelas é a Morte.A personalização da Morte é uma tradição em todas as culturas e povos e, no Brasil, que só na segunda metade do século XX se converteu de nação rural em uma sociedade predominantemente urbana, a Morte é com frequência vestida na roupagem de um ente soturno sempre, porém, às vezes um tanto cômico, a perambular pelas roças atrás de quem não respeita os conselhos dos mais velhos.A comicidade nesse caso vem associada com a esperteza, caipira ou sertaneja, a depender do espaço geográfico em que ela se manifesta. Assim a Morte, essa figura universal, se reveste ironicamente da cor local, ora com seu chapéu de couro de aba dobrada, no nordeste; ora com seu chapéu de palha desfiada, no sudeste e centro-oeste; ora com seu chapéu de gaúcho no sul. Nessas histórias, às vezes a Morte é enganada, mas noutras ela se faz de tonta para recolher o que lhe pertence. Em ambos os casos, todavia, estão o medo e o riso do povo, que gosta de se divertir, ainda que a tremer, com a 'Indesejada das Gentes'.