Neste romance, escrito em 1920, Zamiatine descreve, mais do que um mundo futuro, as relações humanas nesse mundo, que é eficazmente produtivista, limpo, desprovido de emoção. As figuras humanas visíveis são apenas as dos adultos; os velhos e as crianças não estão presentes na narrativa. Os homens e as mulheres são aparentemente iguais, a começar pelo vestuário, funcional e simples (os unifs); todos têm números, e não nomes. O meio circundante corresponde necessariamente a este tipo humano: visto a individua-lidade não existir, os apartamentos são transparentes. Só nas relações sexuais, superiormente organizadas, obedecendo sempre a um dia e a uma hora pré-determinados, surge um vislumbre de privacidade: fecham-se as persianas do quarto. Trata-se, enfim, de uma ficção sobre o triunfo da racionalidade num sistema social em que cada pessoa se dissipa numa ideia de comunidade