O novo livro de Caio Silveira Ramos, Sambexplícito - As Vidas Desvairadas de Germano Mathias, vai muito além do discurso convencional de uma biografia. " O texto se recheia da gíria dos meios socias que o artista cruzou e que transparece em seus sambas - não diga malandro, diga maluco. Mas a pesquisa de base, tanto o documental quanto a discográfica, é de se tirar o chapéu. O autor não se furta a entabular discussões sobre pontos controversos de nossa música popular, mostrando o quanto a conhece e domina", descreve Walnice Nogueira Galvão, em seu prefácio. "Com a seriedade solene de quem entende e respeita como ninguém a sua maneira de viver e cantar gigando, Caio Silveria Ramos não oferece seu personagem de bandeja. Para contar uma história de sincopados, malandragens e resistências assume também o risco de escrever no limite entre o código aceito e a sua necessidade de 'disritmar' a narrativa, mesmo consciente do perigo de se perder em cada nota. Mas não se perde. E nisso, "feiticeiro a estender e a diminuir instantes", presta a maior homenagem a seu biografado, rei dos suingues e gingados. Na vida e nas canções", completa Fernando Szegeri. Em Sambexplícito - As Vidas Desvairadas de Germano Mathias, que chega as livrarias pelo selo A Girafa, Caio nos brinda com uma lelitura prazerosa sobre a vida desta grande figura que é Germano Mathias, uma oportunidade para que as novas gerações conheçam a obra do sambista e viagem pelas raízes do samba paulista. O texto acompanha a tragetória do sambista paulistano através de uma narrativa que funde o falar da malandragem e o ritmo do samba sincopado, mas o relato, porém, é constantemente interrompido por vários tipos de "síncope". Pode se entender a síncope como um artifício - muito apreciado por Mathias e fortemente utilizado em suas interpretações - de ruptura no discurso musical com o deslocamento do acento rítmico esperado. Em Sambexplícito, as diferente "espécies" de "síncopes" inventados (fundamentais, explicativas, desnecessárias, sigilosas e "imaginárias") têm a função de alterar o ritmo da narrativa, introduzindo conceitos musicais, análises irônicas de letras de samba, breves textos "sentimentais", pequenas biografias de sambistas que influenciaram Germano (como Caco Velho, Jorge Costa e Padeirinho da Mangueira), capítuos falsos, comentários sobre o racismo nos sabistas da década de 50 e a influência de ritmos do Norte e Nordeste do país no samba, ensaios "malandros" sobre o uso da tampa da lata de graxa como instrumento musical, além de muitos outros assuntos. Mais do que narrar a vida de Germano Mathias, o livro busca captar seu espírito, sua malandragem, seu humor, seu linguajar e principalmente seu ritmo. Um paulistano, filho de europeus, sambista e malandro. Um personagem quase inacreditável. "Há coisas na biografia de Germano que me emocionam: nascido no bairro de Pari, foi essencialmente uma criatura gerada pelo rádio. (...) Quero destacar que uma das influências fundamentais de Germano foram as batucadas em caixas de madeira e latas dos engraxates. Essa é a semente que, após a fecundação nas rodas da Sé, da Barra funda e da Rua Direita, gera o Branquinho Pixaim (...)", lembra Aldir Blanc na apresentação que fez para o livro.