Cresce o interesse da nova geração acadêmica pelo estudo daquelas manifestações da cultura popular que, em meados do século XX, Luiz Beltrão tipificou singularmente ao criar a disciplina denominada Folkcomunicação. Entretanto, os livros onde estão definidos os pressupostos teóricos e metodológicos dessa linha de pesquisa - Comunicação e Folclore (1971) e Folkcomunicação, a comunicação dos marginalizados (1980) - se esgotaram completamente. Eles nem sequer estão disponíveis nas bibliotecas das novas universidades brasileiras, dificultando assim o acesso dos jovens leitores, ávidos de conhecimento. Felizmente a versão integral da tese de doutorado de Luiz Beltrão, defendida em 1967, na Universidade de Brasília - Folkcomunicação, um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de idéias -, foi reproduzida pela Editora da PUC do Rio Grande do Sul, em 2001. Ali está contido o cerne da teoria defendida pelo mestre pernambucano que também conquistou a cidadania brasiliense. Embora constituindo um marco histórico, aquele trabalho seminal mostra-se insuficiente para expor o seu universo empírico e conseqüente para desvendar suas opções metodológicas. É verdade que depois do falecimento de Luiz Beltrão, seus principais discípulos e exegetas, como Roberto Benjamin, Osvaldo Trigueiro, Joseph Luyten, Sebastião Breguez, Cristina Schmidt, Antonio Hohlfedlt, Severino Lucena, Samantha Castelo Branco, Betânia Maciel ou Antonio Teixeira Barros, acrescentaram elementos essenciais para o desenvolvimento da nova disciplina. É também evidente que tais inovações não esgotaram a riqueza das picadas abertas no plano teórico, esbarrando muitas vezes em dificuldades para aplicar soluções metodologicamente compatíveis com a fisionomia peculiar do campo folkcomunicacional. Basta examinar cuidadosamente as centenas de trabalhos expostos e debatidos durante as edições da FOLKCOM - Conferência Brasileira de Folkcomunicação, para perceber com nitidez a vacilação, impropriedade ou impertinência de algumas tendências recentes da pesquisa nessa área. Existem trabalhos que não ultrapassam o caráter etnográfico peculiar aos estudos antropológicos e outros que se constituem em meras análises de conteúdo, semelhantes aos estudos sociológicos. Luiz Beltrão pretendeu assimilar objetos que já vinham sendo estudados pelos cientistas sociais, buscando compreender como tais fenômenos configuravam processos comunicacionais, mediados pelas indústrias de bens simbólicos. Deu-lhes, portanto, tratamento analítico consentâneo com a sua natureza comunicacional, o que significa ultrapassar a descrição dos seus fluxos interativos para sugerir apropriações capazes de compreendê-los, buscando preservar as respectivas identidades culturais. A intenção de publicar esta antologia, reunindo textos selecionados das obras seminais do autor, bem como ensaios dispersos que ele publicou posteriormente, é justamente a de contribuir para o avanço dos estudos de Folkcomunicação, como forma de dar continuidade a muitas idéias, sugestões e caminhos abertos pelo seu inspirador intelectual. Integram o volume um capítulo introdutório, por meio do qual procuro situar historicamente os leitores ainda não familiarizados com o universo da pesquisa em folkcomunicação, bem como um apêndice bibliográfico, elaborado diligentemente por Maria Cristina Gobbi. Seu propósito é o de balizar os futuros estudiosos da área quanto aos temas, questões e autores que, ancorados nos estudos de Luiz Beltrão, enriqueceram inequivocamente a área cognitiva situada na fronteira da mídia com a cultura popular. Vale a pena lembrar que boa parte do repertório bibliográfico aqui indicado encontra-se disponível para consulta no Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano, mantido pela Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, no campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo.