Este livro é um reflexo de doze anos de vivências ininterruptas em meio ao que aconteceu em nossa criminologia. Doze anos em que vimos nascer e crescer dois movimentos totalmente novos e produtivos: o Grupo Latino-Americano de Criminologia Comparada e o Grupo de Criminólogos Críticos Americanos. Nos quais nasceram criminólogos, teses e teorias. Acreditamos ser necessário contar parte dessa história. O livro abrange momentos muito intensos e de muito intensa reflexão sobre o que deveria ser o pensamento criminológico latino-americano, numa época em que as expectativas e os conflitos sociais e políticos se manifestavam muito intensamente no mapa de nossa América. Enquanto o sangue escorria nesse mapa, fosse nas guerras centro-americanas de alta e baixa intensidade, fosse nas ditaduras do chamado Cone Sul, despertou-se, naqueles núcleos geográficos em que a universidade funcionava em clima de liberdade, um inusitado interesse em conhecer os mecanismos pelos quais se exercia a dominação através de elementos de grande poder coativo, como o sistema penal, e no campo mais sofisticado da construção das ideologias. Pesquisas que procuraram conhecer não apenas os controles penais, mas a história da punição e da recompensa através da história do controle, tanto rural e pré-colombiano (em alguns casos) como urbano, em sua maioria. A comunicação, a educação e a religião foram fontes de pesquisas, temas que até então raramente apareciam nos nossos livros de criminologia - pelo menos, nesses termos -, já que eram estudados sempre e apenas como formas de socialização. A necessidade de integrar a reflexão penal e criminológica como caminho para recuperar, onde estão sendo violados, às vezes de maneira fraudulenta, os proclamados direitos humanos.