Romance de origem espanhola e de autoria anônima, Lazarilho das crianças, nesta produção de Paulinas, foi adaptado por Rosa Navarro Durán e recriado para o português por José Arrabal. Lazarilho, nascido em Tormes, pregoeiro da cidade, era casado com a bela Lolita e pais de três filhos, cuja paternidade questionável era motivo de troça entre o povo. Incitado por uma nobre dama - Doña Maria Blanca - a narrar sua vida desde a infância, Lazarilho, devidamente remunerado pela aristocrata, contratou um escriba, já que era analfabeto. Menino humilde, filho de pais pobres, logo cedo viu sua família desmoronar com a prisão injusta do pai que viera a morrer precocemente. Sem condições de sustentá-lo, a mãe deu o menino a um cego charlatão e oportunista. A partir daí, Lazarilho iniciou sua perambulação pelo mundo, servindo a vários amos - o cego, o padre e o capitão decadente -, cujo objetivo maior era vencer a fome e sobreviver à hostilidade do mundo que o cercava. Romance com protagonista picaresco tal qual Pedro Malazartes e Leonardo - de Memórias de um sargento de milícias -, Lazarilho das crianças denuncia a miséria, a injustiça e a hipocrisia de uma sociedade decadente em valores morais e humanos. Daí sua permanência como clássico, pois ainda nos dias de hoje, o leitor encontrará nele semelhanças com a sociedade atual.