Os parceiros do Rio Bonito surgiu do desejo de analisar as relações entre literatura e sociedade, tendo partido de pesquisa sobre a poesia popular do Cururu - dança cantada do caipira paulista - cuja base é um desafio sobre os mais vários temas, em versos de rima constante, a carreira, que muda depois de cada rodada. As investigações começaram em 1947 mas, por causa dos encargos de ensino que tomavam a maior parte das férias do autor, acabaram se dando com irregularidade. Nesse ritmo se fez a colheita do material em algumas áreas caracteristicamente caipiras do estado, durante os anos de 1947, 48, 49, 52, 53, 54. Antonio Candido trabalhou, em períodos curtos em Piracicaba (7 visitas), Tietê (2 visitas), Porto Feliz (1 visita), Conchas (2 visitas), Anhembi (1 visita), Botucatu (3 visitas) e sobretudo Bofete. Aí morou num agrupamento rural cerca de vinte dias, de fevereiro a março de 1948 e, de novo, quarenta dias, de janeiro a fevereiro de 1954, quando a redação, iniciada em agosto de 1953, tornou necessária a volta ao campo de estudo para reforçar o material e verificar hipóteses à luz da passagem do tempo. Terminado em setembro de 1954, este trabalho foi apresentado como tese de doutoramento em Ciências Sociais à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo onde Antonio Candido foi, durante dezesseis anos, Assistente de Sociologia II. Depois da defesa e da aprovação da tese, seu texto foi deixado de lado por alguns anos pelo autor que tinha a esperança de poder melhorá-lo. Isso acabou não acontecendo e o livro reproduziu a tese tal como foi apresentada, salvo correções que não alteraram o sentido geral. Os dados numéricos envelheceram, a própria situação estudada se alterou com tendência para reconstituição do latifúndio como realidade econômica e social, à custa da pequena propriedade e do sistema de parceria analisado em Os parceiros do Rio Bonito. Mas o livro não encerra uma tese de Economia nem pretende fornecer dados recentes. Visa des-crever um processo e uma realidade humana, característicos do fenômeno geral de urbanização no estado de São Paulo. ANTONIO CANDIDO DE MELLO E SOUZA nasceu em 1918 no Rio de Janeiro mas viveu desde os oito meses em Minas Gerais, de onde é sua família, primeiro na cidade de Cássia e, a partir dos 11 anos, em Poços de Caldas. Não frequentou a escola primária, aprendendo as respectivas matérias com sua mãe. Iniciou o secundário no Ginásio Municipal de Poços e o concluiu, em 1935, no Ginásio Estadual de São João da Boa Vista, São Paulo. Em 1937 e 1938, já na capital, fez o curso complementar na 1ª Seção do Colégio Universitário anexo à Universidade de São Paulo. Em 1939, ingressou na Faculdade de Direito e na seção de Ciências Sociais da Fa-culdade de Filosofia, Ciências e Letras. A primeira, abandonou no quinto ano e, na segunda, obteve os graus de bacharel e licenciado em janeiro de 1942. Entre 1942 e 1958, foi assistente do professor Fernando de Azevedo na cadeira de Sociologia II, na Universidade de São Paulo. Em 1945, aprovado no concurso para a cadeira de Literatura Brasileira da mesma, obteve o título de livre-docente com a tese Introdução ao método crítico de Sílvio Romero. Paralelamente à vida universitária, foi crítico literário da revista Clima (1941-44) e dos jornais Folha da Manhã (1943-45) e Diário de S. Paulo (1945-47), assinando um rodapé semanal com o título "Notas de crítica literária". Em 1954, obteve o grau de doutor em Ciências Sociais com a tese Os parceiros do Rio Bonito. A partir de 1958 optou definitivamente pela literatura. De 1958 a 1960, foi professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, São Paulo. A partir de janeiro de 1961, retorna à Universidade de São Paulo na condição de professor colaborador de Teoria Literária e Literatura Comparada. Tornou-se titular em 1974 e aposentou-se em 1978, continuando, porém, a orientar dissertações de mestrado e teses de doutorado até 1992. Também foi professor associado de Literatura Brasileira na Universidade de Paris (1964-66) e professor visitante de Literatura Brasileira e Literatura Comparada na Universidade de Yale (1968). De 1976 a 1978, coordenou o Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de São Paulo. Em 1945, foi um dos fundadores da União Democrática Socialista, que no mesmo ano integrou-se à Esquerda Democrática, transformada em 1947 no Partido Socialista Brasileiro, de cujo jornal, Folha Socialista, foi um dos diretores. De 1948 a 1949 presidiu a Associação Brasileira de Escritores, Seção de São Paulo. Em 1956 elaborou o projeto do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Entre 1973 e 1974, foi um dos dirigentes da revista Argumento, proibida no quarto número pelo regime militar. É membro do Partido dos Trabalhadores desde a fundação.