Os estudos linguísticos contemporâneos mostram que as relações entre língua falada e língua escrita não devem ser tratadas de forma dicotômica, mas podem ser consideradas a partir de uma visão contínua e processual. Neste livro, adota-se essa posição de análise, denominada por Marcuschi como "perspectiva sociointeracionista". A princípio, essa perspectiva descarta qualquer possibilidade de valorização da escrita em relação à fala, bem como não classifica nenhuma dessas duas modalidades linguísticas como um padrão a ser seguido. Como pergunta-chave, neste livro tenta-se responder aos seguintes questionamentos: houve uma influência substancial do fenômeno da oralidade na obra poética de Manuel Bandeira? Em caso afirmativo, quais os níveis dessa influência? Por seu turno, nossa hipótese se baseia na afirmativa segundo a qual Bandeira aplicou marcas linguísticas orais em sua obra poética, nos níveis lexical, sintático e discursivo, sobretudo pelo fato de ter vivido um período histórico-artístico marcado por uma tendência de ruptura com as posições vigentes da arte literária. Dessa forma, neste livro, investiga-se a relação da oralidade com a obra poética de Manuel Bandeira e examina-se como a presença do oral ocorre linguisticamente nos textos do poeta. Marcas de oralidade na poesia de Manuel Bandeira mostra como a linguagem do poeta consegue manter uma interação constante com a linguagem do leitor, de uma maneira espontânea, diferente, por isso, da maioria dos autores da época, em que a presença da oralidade e das construções típicas de uma fala pretensamente "brasileira" visava mais ao confronto com o estilo dos poetas de linguagem tradicional. Para base de suas análises, Gil Roberto percorre as várias teorias sobre a oralidade e suas relações com a escrita, fixando-se na visão sociointeracionista, a partir da obra de Luiz Antônio Marcuschi, por meio da teoria da variação dos gêneros textuais. Esta obra se apresenta acessível, não apenas aos estudiosos de Linguística, de Teoria Literária e Literatura, aos universitários de Letras em geral, mas também ao leitor comum, interessado na poesia de Bandeira e, principalmente, em desvendar o segredo de um poeta que soube aproveitar os recursos da língua oral para transformá-los em uma original criação poética. De fato, uma das qualidades deste trabalho consiste na sua forma espontânea e didática de expor problemas teóricos que envolvem o binômio língua oral/escrita, de forma a torná-los compreensíveis ao leitor comum. Esta obra, que enriquece nossa bibliografia linguística, é um bom exemplo do que de melhor se produz na moderna universidade brasileira, na área de Letras, principalmente num tema tão carente em nossos dias, ou seja, o da relação entre fala e escrita, entre fala e linguagem literária. O próprio ensino, estamos certos, poderá beneficiar-se desse novo enfoque de análise da obra de um dos maiores poetas da moderna literatura brasileira.