Eu sou a mosca que caiu na sua sopa, eu sou uma mosca e vim só me alimentar. O trecho da música de Raul Seixas tem um papel oportuno na curiosa história de O velho e a mosca, primeiro livro de Bel Barcellos. Uma mosca gulosa e perdida, em busca de comida. Um velho solitário e estressado, em uma casa isolada no alto de um morro. Um encontro inesperado entre os dois acontece; a princípio, nada muito afetuoso: "O velho, solitário e quieto, detestou a presença daquele inseto. Girou o corpo de supetão e deu-lhe um tremendo bofetão!" Mesmo sem conseguir comer sequer a "gororoba" seca e dura que era a refeição do velho, logo ao entrar na casa, a mosca não desiste e resolve atormentá-lo. E o duelo começou: "Sua safada, isso não fica assim. Te cuida que já vejo teu fim!" Seduzida por uma armadilha que o velho aprontou, a mosca acerta o alvo em cheio, e o desfecho é surpreendente. Amplificando uma situação cotidiana, que poderia ocorrer com qualquer pessoa, Bell Barcellos possibilita uma reflexão sobre alguns sentimentos da natureza humana, como solidão, egoísmo, perdão e compreensão. O conto, inspirado nas histórias que os filhos da autora pediam para ela contar todas as noites, é repleto de rimas e graciosas ilustrações, ambas aprovadas pelos filhos de Bell e também pelos do cantor Gabriel, O Pensador, que assina a quarta capa do livro.