O sentimento poético, aqui, encontrado nessas páginas, flutua entre um rigor lexical preciso e contundente, adestrado por uma viva consciência que já não mais se concilia com a realidade, embora permaneça partícipe dos movimentos do mundo, e uma delicada musicalidade que flerta com uma transcendência que está sempre a se evadir. O tempo e nossa inexorável condição de finitude parecem conduzir as imagens para um suave niilismo, uma espécie de serena desesperança diante da incomunicabilidade dos seres, como bem define o trecho: Ancorado a essa cadeira, gravita em torno a mim o que é inusual/num mar tão inexistente e vasto como amanhã e disperso como agora./Ainda que seja tarde, ouço o estalo de um móvel,/só alguém se mexendo numa outra cadeira./Conformado, vou me afogando. Há um posicionamento político mesmo aí, operado por essa voz que está na iminência de se extinguir, ao denunciar um tempo de absoluta apatia e de recrudescimento espiritual do homem: Os passos se tornam (...)