Segundo romance de Lúcio Cardoso, inspirado no morro carioca de mesmo nome, foi publicado originalmente em 1935 e encerra a fase social do autor iniciada com Maleita. No livro já estão presentes os primeiros sintomas do romance introspectivo, psicológico, que viria a ser o forte da expressão do escritor. Salgueiro é um romance denso e complexo, em que o morro ganha contornos de protagonista. O livro é dividido em três partes que expõem a história de três gerações de homens sem perspectivas: O avô, O pai e O filho. Ao longo da narrativa, o leitor percebe que o morro adquire vida própria, enquanto os personagens vão se descaracterizando, transformando-se em coisas. A fome e o desemprego geram uma população de miseráveis, e aqui a miséria é narrada sem meias-palavras. Em certos momentos, é difícil perceber a diferença entre os trapos, a sujeira, a lama, os cachorros e as pessoas. Tudo e todos são nivelados pela miséria. O romance marca uma diferença bem definida entre o morro e a cidade. É significativo como o morro revela aspectos contraditórios: não são os personagens que delineiam o espaço, ou atuam sobre ele. A impressão é a de que o morro configura os personagens. Trata-se de um mundo à parte, um lugar de exilados. Ou exilados de uma vida digna. O trecho em que dois personagens vão para um hospital é notável: o branco das paredes, dos lençóis e dos móveis faz as mulheres pensar que seria impossível morrer num lugar tão limpo e imaculado.