A bela jornalista ruiva, uma profissional de sucesso na capital dos negócios, Nova Iorque, contempla a cidade pelos vidros do táxi. Em breve chegará a seu luxuoso apartamento, repleto de antiguidades, mapas antigos, livros raros e tapetes persas. Subitamente, seu olhar é atraído por uma visão, infelizmente não tão incomum nas metrópoles: uma senhora idosa e desgrenhada vasculha uma lixeira em busca de algo para comer. Em pânico, a jornalista, que aterrorizava as celebridades com sua ácida coluna de fofocas, esconde-se no interior do veículo. Havia reconhecido a mulher em estado de indigência. Tratava-se de sua mãe. Um conto fantástico, ou a imaginação delirante de um autor, em busca do efeito fácil sobre os leitores, diriam alguns. No entanto, a história é absolutamente verídica, e um desses casos em que a realidade parece emprestar as tintas da ficção.A bela jornalista ruiva, uma profissional de sucesso na capital dos negocios, Nova Iorque, contempla a cidade pelos vidros do taxi. Em breve chegara a seu luxuoso apartamento, repleto de antiguidades, mapas antigos, livros raros e tapetes persas. Subitamente, seu olhar e atraido por uma visao, infelizmente nao tao incomum nas metropoles: uma senhora idosa e desgrenhada vasculha uma lixeira em busca de algo para comer. Em panico, a jornalista, que aterrorizava as celebridades com sua acida coluna de fofocas, esconde-se no interior do veiculo. Havia reconhecido a mulher em estado de indigencia. Tratava-se de sua mae. Um conto fantastico, ou a imaginacao delirante de um autor, em busca do efeito facil sobre os leitores, diriam alguns. No entanto, a historia e absolutamente veridica, e um desses casos em que a realidade parece emprestar as tintas da ficcao. Em O castelo de vidro, Jeanette Walls escreve as memorias de sua familia boemia, errante, atipica e inconformista. Talvez herdeiros do espirito libertario dos beats, ou da rebeldia dos anos sessenta, os pais de Walls enveredariam por um verdadeiro periplo por dezenas de cidades americanas, chegando mesmo a viver nas ruas, como sem-teto. Avessos aos trabalhos regulares, o pai vivendo de expedientes, a mae, uma pintora amadora e amante das artes, muitas vezes as memorias de Walls revelam momentos em que a fome e o desespero parecem intoleraveis. No entanto, com seu estilo vigoroso e direto, ela nunca apela para as explicacoes de cunho psicanalitico ou social, e escapa do sentimentalismo banal. Cumpre acertar as contas com seu passado, a compreensao de um choque de ideais e de geracoes. O livro de Walls, para alem do relato de uma infancia de miseria, aponta, portanto, para questoes da maior relevancia. Trata-se da solidao e da incomunicabilidade entre as pessoas, e da perseguicao de sonhos e projetos pessoais. A historia da familia de Walls, portanto, em seu carater absolutamente unico, fala um pouco de todas as familias, de todos os sonhos, de toda a existencia. Fala um pouco sobre todos nos.