mergulho de Débora Grion pode ser lido como da tradição romântica. O eu-lírico que sofre pela inexibilidade do destino e suas mortes iminentes – talvez o principal tema da obra. Mas, ao mesmo tempo, sua poesia revisita esses temas de uma maneira leve, quase irônica, como se colocasse uma dobra por sobre a mesma página, elevando a narração ao quadrado. Quando em um poema ela fala que morreu “quando ele se foi”, porque “amava-o até dizer chega”, como se fosse um rasgo de um exagero jamais alcançado, ela volta a si e completa acrescentando, de maneira falsamente simplória: “e disse”. Parece o fim, chega, mas ela ainda continua a aprontar. Acrescenta uma “errata”, apontando seus erros de interpretação: na verdade, “você morreu bem antes de ele se ir / você renasceu quando ele se foi”. E, arremata numa errata 2, sem dar espaço para um exagero retumbante, lembrando que, na verdade, ela estava morta “antes de ele chegar”. Com versos nunca óbvios, às vezes flertando com a prosa, influências diversas (dos beatniks a García Márquez, passando por Pessoa e Ana Cristina Cesar, ou mesmo Van Gogh – para quem dedica dois poemas) e contando por todo o livro a superação do “fim”, débora grion (nascida em 24 de junho de 1994 e futura médica) mostra que, mesmo que se concretize “o mais real dos impossíveis”, isso serve “pra cada vez me sentir mais eu”. O único encontro possível é consigo mesma.