As letras de contestação às desigualdades sociais e de resistência ao autoritarismo, e outros tipos de desmandos, já vinham desde antes do samba. Porque a história da música popular brasileira se confunde, em muitos aspectos, com a luta do “povo sofredor” por suaautodeterminação. E é também, muitas vezes, a crônica das desigualdades, cada vez mais gritantes, que flagelam as camadas subalternas da população brasileira, no seio da qual o samba nasce\/renasce a cada década, desde o “Pelo Telefone”, em 1917.Nesse panorama, a dialética ação\/reação gera movimentos e espaços de resistência, nos quais a cultura popular, tendo o samba como um dos principais baluartes, vocaliza o fenômeno. Assim ocorreu, na Bahia oitocentista, quando o povo preto se apropriou da Festa do Bonfim, criada pela Igreja, e a formatou ao seu jeito, com seus sambas e suas comidas; da mesma forma que ocorreu com a Festa da Penha, em terra carioca. A enumeração é longa.