O mais comum a um pai ou uma mãe que perde um filho de forma trágica é mergulhar na dor sem fim e ficar submerso por longos anos, sem ânimo para nem mesmo as atividades de rotina. Raros são os que conseguem transformar a dor em energia para ajudar a proteger a vida de outros jovens. O empresário Luiz Fernando Oderich se enquadra na segunda categoria. Em agosto de 2002, perdeu seu único filho, Max, às vésperas da formatura do rapaz em Administração de Empresas. Conheceu o fundo do poço, mas emergiu para lutar por uma sociedade menos violenta. À frente da ONG Brasil Sem Grades, trabalha por mudanças nas leis para que os criminosos tenham a punição adequada. Sem grades, a propósito, não quer dizer sem prisões, como muita gente imagina, mas sem que as pessoas precisem estar atrás de cercas para não correr o risco de morrer por nada, como Max. Em suas pesquisas sobre a origem da violência, Oderich encontrou incontáveis estudos que apontam a ausência da figura paterna como uma das principais causas da drogadição e da criminalidade. Ao tomar conhecimento do trabalho de um promotor da cidade de Mirassol, interior de São Paulo, que estava fazendo uma espécie de mutirão para identificar o pai de crianças e adolescentes registrados apenas em nome da mãe, Oderich resolveu capitanear um projeto semelhante em sua própria cidade, a pequena São Sebastião do Caí. Batizado de Pai? Presente! - assim mesmo, como se fosse uma lista de chamada -, o projeto ajudou a colocar o nome do pai na certidão de nascimento de dezenas de meninos e meninas. É a história desse projeto que Oderich conta em Os Filhos da Mãe, um relato detalhado de cada contato até que começassem a surgir os primeiros frutos. Os Filhos da Mãe pode servir como inspiração para autoridades e voluntários que se disponham a estender para outras cidades uma iniciativa que hoje tem o aval do Conselho Nacional de Justiça. Despretensioso na forma, é o relato de um homem que tem todos os motivos do mundo para descrer, mas insiste em acreditar que a sociedade tem jeito.