Em 1989 e 1990 acompanhei o escritor americano Bob Reis sem suas incursões pelo estado de Rondônia e Acre em busca de material para um livro que explicasse ao mundo tudo o que acontecia nesta região do planeta, que "tinha recentemente assassinado o ecologista Chico Mendes". E agora o livro de Reiss é um dos objetos de estudo de Microfísicas do imperialismo. "É preciso descolonizar o conhecimento" afirma a estudiosa canadense Mary Louise Pratt. E o que o presente livro faz é justamente isso. Ao analisar as representações da Amazônia feitas por autores de literatura de viagem dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Canadá e, ao propor uma discussão local sobre o assunto, Hélio Rocha desmantela o discurso colonizador e imperialista produzido sobre a Amazônia em outras partes do mundo. O autor sugere que nem tudo o que é escrito sobre a Amazônia por estrangeiros é colonizador ou imperialista, mas sustenta que é preciso que pessoas de nossa região produzam conhecimento e revelem ao mundo nosso olhar, um olhar de dentro, convidando todos a rever posições, discursos e julgamentos. Se, como diz Frantz Fanon, "o intelectual colonizado que escreve para seu povo deve fazê-lo com o intuito de resgatar o passado e abrir perspectivas para o futuro", Helio Rocha está cumprindo muito bem este papel. Vale a pena percorrer estas páginas e, junto com o autor, rever "verdades" e refletir sobre formas de descolonizar o conhecimento sobre a Amazônia.