Ultimamente, chamou-me a atenção um fato surpreendente: as pessoas mais normais e sensatas que conheço começaram a duvidar de si mesmas, da sua saúde mental. A razão dessa insegurança não reside em um novo e estranho vírus nem nos efeitos da camada de ozônio sobre os nossos cérebros. Procede simplesmente de que os meios de comunicação os bombardeiam com mensagens que nada têm a ver com o que a gente sensata está acostumada a fazer: parar quando o semáforo está em vermelho; tratar com respeito a noiva; cumprir a palavra dada; preocupar-se com os mais fracos; crer em alguma coisa mais que nós mesmos. Enfim, é como se comportar-se como procuravam fazê-lo Penépole, Sófocles, Paulo de Tarso, Dante, Ivanhoé, Frodo ou Teresa de Calcutá fosse uma rematada estupidez. No entanto, penso que todos esses eram gente muito sensata e que, no nosso século XXI, também vale a pena ter ideais, crer em Deus, cumprir os mandamentos, ser monógamo, ceder o lugar no metrô às senhoras que entram carregadas de embrulhos, e tantas outras práticas como essas. Este livro procura mostrar três coisas a todas essas pessoas que se sentem um pouco desconcertadas e postas de lado neste novo ambiente: primeiro, que a sua mente funciona perfeitamente; segundo, que não estão sós e que há boas razões para continuarem a comportar-se como acham correto; terceiro: que não conseguem nada ficando num canto e lamentando como o mundo vai mal. Ou seja, que é tempo de começar a reconquista. Como Pelaio, nas montanhas das Astúrias, quando decidiu que a solução contra a invasão dos mouros na Península Ibérica não era continuar a fugir, mas avançar. A diferença com Pelaio está em que a reconquista que hoje se requer emprega meios pacíficos, faz-se com sorrisos e palavras, escutando, escrevendo, e com o exemplo. Mas a coragem é a mesma. Estas páginas pretendem que essas pessoas reparem que não perderam o juízo, mas são simplesmente rebeldes, ainda que não o saibam.