A linguagem, com seus simbolismos abertos a idiossincrasias, representa o que há de mais lúdico e palpitante no teu seio e na tua alma: é ela que te prorrompe aos prantos, é sua maciez que te chora, é sua aspereza que te amola. É a sonoridade de um eu te amo no ouvido que te impede de balear o peito; é a simplicidade de pronunciar sílabas que te faz acordar cada dia; é a linguagem que te vive, que te prospera, e é por sua transmutação e sua manipulação que reúnes as peças, desenhas os projetos e moldas teus mundos. São nas escolhas que fazes dentro do espectro paradigmático da língua que tudo na tua vida emoldura-se à percepção, por meio da qual se pode ouvir, sentir, cheirar, viver e perceber (a si e ao externo) - tudo numa mesma sensual e prismática confusão, todavia existente somente no pensar. Esta obra é reflexo disto: do desconcerto, da fanopeia, da sinestesia e, portanto, da exploração do texto e dos seus instrumentos sugestivos. [...]