Cesário Verde (1855-1886) é um desses artistas que se localizam no entroncamento entre várias escolas estéticas, jamais se identificando integralmente com uma ou outra, mas forjando uma obra versátil e de facetas múltiplas. Considerado parnasiano por uns, correspondente português do poeta francês Baudelaire por outros, tratando de temas da predileção dos realistas, Cesário levou uma vida digna de escritor romântico: nasceu em Lisboa, filho de um comerciante, e freqüentou a Universidade de Coimbra por pouco tempo. Começou sua carreira literária com a publicação de alguns de seus poemas em periódicos portugueses, quando sentiu os primeiros sintomas de tuberculose. Seus poemas, que tratam da vida de Lisboa e da vida agrícola dos arredores da capital portuguesa, foram desprezados pela crítica da época. Morreu na cidade natal, em decorrência do chamado mal-do-século. No ano seguinte à sua morte, Silva Pinto, amigo de Cesário Verde, reuniu e publicou a sua obra, esparsa, densa e vigorosa, sob o título de O livro de Cesário Verde. Mas, se a crítica e o público da época foram impermeáveis ao talento à frente do seu tempo de Cesário, o mesmo não aconteceu com os poetas modernistas: Fernando Pessoa - mais especificamente seu heterônimo Alberto Caeiro - louvou a poética de Cesário Verde, seu precursor. Pessoa, assim como outras vozes líricas do início do século XX, apreciou, além da sensibilidade e beleza de seus versos, a extrema lucidez da visão de mundo de Cesário Verde, transmitida com uma emotividade autêntica característica dos modernos.