Na segunda metade do século XVIII, a valorização de Shakespeare na Alemanha influenciou decisivamente uma mudança profunda na prática e na teoria da arte. Os principais dramaturgos e críticos da época - como Lessing, Goethe e Schiller - pretendiam reavaliar os parâmetros tradicionais da poética em busca de uma literatura nacional autêntica. E o principal modelo dessa nova e contestadora criação artística foi a obra de Shakespeare. Se por um lado Shakespeare passou a ser equiparado a Sófocles, por outro - em função de sua originalidade, das condições de surgimento de seu teatro ligadas à história, à cultura e às questões do homem moderno -, sua obra se tornou o modelo da criação artística inovadora, intensa e vigorosa. Neste livro, Pedro Süssekind mostra com extrema clareza e fluência como se deu essa mudança de perspectiva que possibilitou a valorização da poesia moderna. E acompanha de que modo - contra a superioridade dos antigos sobre os modernos e contra as normas rigorosas do teatro de Racine e Corneille - foi pensada na estética alemã a noção do gênio original, cuja criatividade espontânea não segue as regras tradicionais da arte.