Através de uma potente pesquisa, arriscando-se sem medo a discutir as políticas de criminalização do aborto no Brasil, Emmanuella se compromete a pensar a liberdade reprodutiva, tema central das agendas feministas e das lutas por direitos das mulheres, como estratégia radical de reapropriação de corpos, de emancipação e de reafirmação de cidadania. Em sua escrita, fica evidente que a autora produz um compasso próprio ritmado pela escuta crítica e sensível ao percorrer os sentidos políticos implicados em seu movimento acadêmico. Ao recusar reforçar o coro da falsa neutralidade, Emmanuella assinala a urgência em associar as demandas feministas à produção do conhecimento, propondo uma reflexão que permeia as argumentações utilizadas para a justificação da tutela criminal e do respaldo constitucional descriminalizante do tema, através de uma análise sociocultural dos efeitos legislativos. A autora constrói uma crítica necessária e absolutamente pertinente que se opera no interior da matriz de poder, e o faz com a força daquelas que hoje resistem e lutam por um direito que se multiplique em pluralidade de direitos. A feliz surpresa do trabalho está em perceber que Emmanuella, ao denunciar a lógica patriarcal, busca subverter as práticas reguladoras de identidades e alça vôo ao apresentar elementos para que possamos questionar nossos locais estabelecidos nos marcos da lei e daquilo que nela está implicado como possíveis espaços de reprodução da violência de gênero. Na expectativa de que esta obra provoque reflexões e desestabilize certezas, convido a todas à leitura do livro!