A culpa deste livro existir é do meu ascendente em virgem. Nada seria como é se eu não tivesse nascido naquela hora e em coordenada geográfica tão específica. Mais duas voltas no relógio e alguns quilômetros para o lado, e eu poderia estar estancando o sangue de uma artéria, mergulhando no Caribe ou cultivando hortênsias. Se considerasse apenas o signo solar, teria arrancado as páginas deste livro e as teria espalhado pelas ruas desculpa artística para fazer escândalo. Mas o ascendente, de maneira sutil, organiza até a angústia dos buracos na parede. Define a felicidade com amoras. Cria diálogos em semáforos para a memória não passar em branco. A razão de ser deste livro é achar categorias sem derrubar estantes ou pichar os muros. Nada além disso. Como explicar um peixe cru fatiado refletido em olhos apaixonados? Qual o gosto de um punho fechado suspenso sob olhos encharcados? Qual barulho atordoa tanto para que uma cabeça descanse batendo em um poste? [...]