Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, o romance, completou noventa anos com respeito e sucesso nas cores e na voz do gênio Mário de Andrade. Makunáima ou Makunaimã, a divindade indígena do tempo imemorial, habita o Monte Roraima, no extremo norte do Brasil, e faz parte do sagrado de alguns povos indígenas que vivem sob seu cuidado e olhar de menino Deus. Makunaimã: o mito através do tempo, a peça de teatro, traz as vozes indígenas pemon, taurepang, wapichana e macuxi, povos que são herdeiros legítimos de Makunaimã, a reclamar dentro da própria casa de Mário de Andrade o Macunaíma estereotipado, que mistura histórias e culturas indígenas diferentes para compreender a formação do povo brasileiro, a partir do nosso sagrado. É no barulho da discussão sobre Macunaíma e Makunaimã que Mário de Andrade desperta do Além, caminha até a sua sala e surpreende a todos. Não tenham medo. Estava dormindo na mais plena paz há tanto tempo e, de repente, ouço vocês aqui discutindo a minha obra, me acusando de um monte de coisas ouvi gente aí dizendo que eu tinha que ter ido até os índios, ouvir por mim mesmo os mitos taurepang. E que, se tivesse feito isso, eu teria escrito outra história. É nessa energia que acontece o diálogo entre o dono da casa, os reclamantes e os convidados infelizmente, para Mário, sem vinho nem charutos. Makunaimã: o mito através do tempoé um livro revolucionário, que traz à tona vozes e visões do outro lado o indígena, que por noventa anos esteve totalmente invisível, sendo reiteradamente desrespeitado em sua existência e em seu sagrado. Cristino Wapichana, no prefácio