Babel é livro comprometido com a literatura; com o que ela tem de mais expressivo, visceral e significativo. Texto que nos remete a contos, fábulas e mitos, construindo um painel tanto do nosso mundo, sem cair nos regionalismos ou nos tradicionais transes da classe média literária, quanto da própria arte de escrever. É recapitulação, quase invisível, dos textos da literatura ocidental, desde um quase poema homérico até a dissolução radical da linguagem pós-moderna, chegando, no seu ponto culminante, o último texto do livro, onde todas as linhas de construção se abrem e se fecham reconstruindo outro olhar, exigindo outra leitura, algo mais que um "livro de histórias", um acerto de contas, uma batalha infinita. Certa crítica transparece nesse "final" intertextual, como se quisesse fechar um grande período, ou uma maneira de fazer literatura, apontando outras sensibilidades. E saímos todos ganhando. É obra que demonstra o quanto a arte literária pode desenvolver um fio mágico, analógico, metafórico e não-realista capaz de re-ver o real. Os textos, como pedras de um mosaico, ao se desfiarem na leitura, "por dentro", fazem deslumbrar um painel inesperado, outra narrativa, antes escondida; e nessa sombra os grandes temas e as grandes obras aparecem como fantasmas que carregam a narrativa a paroxismos imprevistos. Ao mesmo tempo é coisa íntima, guardada, irrevelável. Dizendo respeito somente a quem lê e lê de certa maneira. É, antes de ser uma cartografia do nosso ser coletivo, um ato de amor à escritura que envolverá os mais variados leitores.