O livro examina modos de vida e culturas profissionais de pessoas que, entre os séculos XVII e XIX, viviam das águas do mar e dos rios ? marinheiros, canoeiros e pescadores. Situados entre a escravidão e a liberdade, muitos eram cativos, outros homens livres; todos, porém, eram dependentes de algum senhor. Nesse exame, a cultura marítima partilhada por esses personagens é apresentada como um aspecto dinâmico, articulado ao movimento histórico de formação da sociedade brasileira. A elaboração de artefatos, embarcações e de idéias referentes ao manejo dos recursos naturais, a construção de noções particulares de tempo e de espaço, as relações de poder e dependência, entre outros aspectos, são vistos histórica e processualmente como componentes dessa cultura marítima dos trópicos. Além disso, a intervenção do Estado nacional no mundo de pescadores, marinheiros e canoeiros ? realizada sobretudo pela marinha de guerra ? também constitui objeto de investigação. Essa etnografia procura descrever e analisar o mundo do mar, sugerindo que a cultura é, antes de mais nada, algo construído coletiva e historicamente, e que inclui escravidão e resistências, criatividade e adaptações, violência e liberdade.