Quando pensei em escrever Paixões e segredos, de certa forma, a história abria um leque muito grande para desenvolver um tema romântico, mas com intrigas e paixões extremamente perturbadoras, pois de um lado estaria a maldade humana em uma disputa acirrada, querendo afinal vencer o jogo. Do outro lado, estaria o ideal de bondade, tentando sobreviver! Logo, o amor de três jovens por uma única mulher torna-se o tema principal e os outros subtemas se desenvolvem em torno disto. O amor de Druido, Itamar e Arimatéia é algo fantástico mas, que levado a um clima de interesse em jogo, redunda em um mal maior. As paixões em jogo não se contentam com uma possível derrota. Chega-se a ter impressões de que a dignidade humana não conta nada, pois o que mais vale é o egoísmo. Quando o leitor tomar contato com este romance, eu sei que pensará que o mesmo é autobiográfico. Mas confesso com toda a minha alma que constitui uma verdadeira ficção. No entanto, pela minha situação de padre, e já tendo trabalhado dois anos, na cidade de Jequié (1974/75), todos se perguntarão: por que tanta coincidência? Tentarei explicar a razão de tudo isso: mesmo se tratando de uma ficção, o autor não pode prescindir do real, de fatos e acontecimentos, que filtrados pela sua lente, lembram uma história passada, mas não fixada pela memória. Daí vem a dificuldade que encontro para descrever certas cenas, que naturalmente serão censuradas por alguns leitores. Que me perdoem esses leitores, que me perdoem esses censores da moral pública, porque, como eu poderia escrever, se me privassem das palavras? Como poderia descrever as cenas, se me proibissem a descrição fantasiosa de detalhes da psicologia humana ou mesmo das intenções maliciosas dos personagens? E como poderia contribuir culturalmente com o meu tempo se me tirassem os sentimentos, minha sensibilidade para a ironia?