Ontologia da violência: o enigma da crueldade propõe-se a pensar o ser da violência desconstruindo as bases tradicionais antropológicas da compreensão deste problema. Por muito tempo, o Ocidente disse ser o homem um animal racional. Controlando a animalidade do homem, a violência seria superada. No entanto, não existe nenhum animal genocida. Entre cães, gatos e cavalos não surgiu sequer uma chacina ou campo de extermínio. Ao mesmo tempo, a razão tecnocrática, com seu ímpeto dominador e controlador da realidade, elevou aos estertores o poder de destruição humana. Por isso, o livro afirma que a violência é uma possibilidade sempre presente da totalidade da existência humana. Ela nasce de um tipo específico de existência: aquela que não suporta a presença da alteridade, além de não tolerar o caráter temporal e transitório da realidade. Somente uma vida degenerada, que não suporta os "riscos" impostos pela alteridade e pelo devir, procura negar o outro como meio para sua autoafirmação. Episódios como a homofobia, a sexofobia, a perseguição dos negros, as guerras mundiais, são meios de disseminação de uma vida (cultural) degenerada. Neste sentido, ao inquirir o ser da violência, Ontologia da violência abre portas para um enfrentamento radical desse problema, sem sugerir fórmulas mágicas, soluções românticas ou esperanças racionalistas.